segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Enfermagem & Acupuntura

 

✜  Enfermagem é a arte ou técnica de realizar tratamentos (cure / 治愈 - zhìyù) prescritos por médicos a doenças específicas ou prestar cuidados contínuos (care / 關心 - guānxīn) aos seres humanos enfermos, feridos, deficientes e moribundos. Seus cuidados tanto podem destinar-se a indivíduos como famílias e comunidades. Há quem atribua sua origem, enquanto conhecimento científico, à Florence Nightingale (1820-1910) militante da caridade e causa social inglesa, estaticista e autora de um dos primeiros livros da enfermagem moderna ("Notes on nursing", 1869). [1] Contudo não se pode descartar a hipótese de origem dessa profissão, nos curandeiros(as), religiosos (as), nas parteiras, doulas e pré-históricos práticos encarregados da redução de fraturas. [2] [3] Profissões que ainda persistem na medicina folk (popular / tradicional e/ou são especialidades  da  medicina  e enfermagem.

Em chinês enfermagem (護理 - hùlǐ) pode ser escrita com a combinação dos ideogramas de (lǐ) razão ou ciência e (hù) proteger (também grafado ) ou ainda  护理学 (hùlǐ xué) enfermagem, "o constante aprendizado da ciência do proteger ou cuidar", numa tradução literal.. O ideograma correspondente à cura - zhìyù  (治愈) é compostos pelos signos de regra - zhì  () e  saúde -  yù () e o correspondente a cuidar - guānxīn ( 關心), que também significa preocupar é composto pelos ideogramas () guān - desligar   e () – xīn  que corresponde a  sentir ou a o coração.


Uma pesquisa realizada com enfermeiras (capacitadas em medicina ocidental) numa clínica de acupuntura em Chengdu, China [4] revelou que sua função permanecia igual como no ocidente, sendo auxiliares do médico durante o agulhamento. Os resultados, das entrevistas combinadas com observações "in loco", mostrou também  que as enfermeiras eram responsáveis por muitos dos procedimentos técnicos não invasivos, a exemplo, do uso de  ventosa. Todas as enfermeiras do estudo foram treinadas em medicina ocidental com dito e o treinamento possuíam da  Medicina Tradicional Chinesa (MTC) , incluindo acupuntura, foi adquirido através do médico especializado em acupuntura que trabalhava nessa clínica.  Naturalmente que esta não é a condição de todas as enfermeiras em hospitais e clínicas chinesas.

 Acupuntura uma prática e modelo que se difunde

Dorothy C. Sherwin, do Northeast Wisconsin Technical College [5]  considera promissor  o treinamento de profissionais de enfermagem em MTC. Nesse treinamento tais profissionais  têm a oportunidade de aprender as nuances do ambiente oriental e integrá-las em suas habilidades para cuidar do espírito, da mente e do corpo dos pacientes de maneira holística.

Segundo Souza,...no Reino Unido os acupunturistas tradicionais atuam sem possuir uma graduação, utilizam a acupuntura como terapia principal e se submetem, geralmente, às normas das associações voluntariamente constituídas. Aqueles que exercem a acupuntura com base em um treinamento específico, feito após a graduação em outras áreas das ciências biomédicas, como fisioterapia, enfermagem, medicina, utilizam essa arte como parte de sua profissão, como mais uma técnica entre as diversas possíveis e, por isso, ficam submetidos à regulação estatal de suas profissões principais... [6]

Nos Estados Unidos da América do Norte a Comissão Nacional de Credenciamento para Escolas e Faculdades de Acupuntura e Medicina Oriental (NACSCAOM - National Accreditation Commission for Schools and Colleges of Acupuncture and Oriental Medicine) já aprovou mais de 50 escolas e faculdades de acupuntura e medicina oriental. Para formação de um profissional é exigido um mínimo de 1.725 horas de treinamento, com 360 horas dedicadas a cursos biomédicos ocidentais (que podem ser dispensadas para profissionais de saúde com evidências de aprovação nesses cursos durante o estudo anterior) e 1.365 horas dedicadas à teoria, técnica e prática clínica da acupuntura. [7]

Como nem todos os estados americanos têm os mesmos requisitos para autorização da pratica da acupuntura, o grau de educação e treinamento dos profissionais médicos que realizam a acupuntura varia. Trinta e cinco estados permitem que os médicos pratiquem a acupuntura sem regulamentação, por ser considerada dentro do escopo de suas licenças de médicas ou osteopatas. No Alasca e em Iowa, podólogos e dentistas podem praticar a acupuntura em seus âmbitos de prática. Connecticut permite que enfermeiras realizem acupuntura sob as ordens de um médico sem nenhum treinamento específico. Alguns estados também permitem que os quiropráticos pratiquem a acupuntura após 100 horas de instrução. Kansas permite que assistentes médicos agulhem pacientes, se autorizados por um médico. [7]

Na França, curiosamente, onde o diplomata (não médico) George Soulié de Morant (1878 -1955) foi um dos precursores da introdução da acupuntura no ocidente, ao contrário de outros países europeus, a prática da acupuntura e, mais especificamente, da medicina chinesa é reservada apenas aos médicos. Recentemente uma enfermeira de 62 anos, foi processada por exercício ilegal da medicina, condenada a pagar uma multa de 2.000 euros e teve suspensa direitos  profissionais suspensos. Sua formação em medicina tradicional chinesa de três anos, ocorreu na própria França e Vietnã. [8]

No Brasil O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) reconhece a acupuntura como especialidade dentro da enfermagem.[9] . Considerando que a prática da acupuntura tem validade e eficácia, e não contraria a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem (LEPE n.º 7.488/1986). O COFEN quando estabeleceu a acupuntura como especialidade, cabendo ao enfermeiro, privativamente ampliar sua capacitação profissional nos horizontes conceituais dos benefícios da técnica da acupuntura tanto para o diagnóstico de enfermagem como nas intervenções específicas (ou seja, a acupuntura não está incluída na grade de disciplinas do curso regular de enfermagem no Brasil e requer especialização).

Alguns pesquisadores ressaltam que apesar de autorizada pelo COFEN, e por relativa presença de sua utilização como prática holística e/ou complementar integrativa, no Brasil há restrições a prática da acupuntura na enfermagem em algumas instituições [10] [11] [12]

Contudo pode-se afirmar que há consenso de expertises em diagnósticos de enfermagem e intervenções em acupuntura quanto a aplicação da técnica nos cuidados e diagnósticos de enfermagem. [13] [14] [5] Observando-se porém a demanda de desenvolvimento de mais estudos teóricos e práticos para sua fundamentação e aplicação a problemas específicos, tipo dor crônica, artrose, infertilidade, transtornos da gravidez, obesidade etc.  (o que não é uma recomendação à pratica da acupuntura na enfermagem e sim a alguns supostos efeitos de eficácia da acupuntura em si independente de quem o pratique) [13] [16] [17] [18] [19]

Observe-se que o esforço de pesquisas para comprovação científica e eficácia terapêutica da acupuntura e outros aspectos da medicina chinesa ocorre em paralelo à disputa pelo estabelecimento do monopólio de sua prática. Segundo Nascimento [20] a controvérsia entre médicos e não-médicos parece ser expressão tanto da disputa no campo do saber e mais precisamente da autoridade cultural, que na cultura ocidental tende a ser identificada à ciência, como no campo do mercado, ambos concorrendo para a consolidação do processo de profissionalização da acupuntura no Brasil.

 Referências

1 - Encyclopædia Britannica. Nursing, medical profession, BUHLER-WILKERSON, Karen (https://www.britannica.com/science/nursing) ;  SELANDERS, Louise. Florence Nightingale, British nurse, statistician, and social reformer (https://www.britannica.com/biography/Florence-Nightingale) Acesso em agosto de 2020 / Bbarcelona: La Sal, 1981

2 – EHRENREICH, Barbara; ENGLISH,Deidre. Brujas, parteras e enfermeras, una historia de sanadoras. NY: Glass Mountain Pamphlet, Feminist Press, 1973

 3 - Shady Grove Orthopaedics. Hystory of orthopaedics. Washington, DC: https://shadygroveortho.com/history-of-orthopaedics/ Aces. Agosto de 2020


4 - RISLUND, S. (2016).Nurses’ Conception of their Role in Acupuncture Therapy in a Clinic in Chengdu, China : An empirical study investigating the nurses’ role in a Chinese setting (Dissertation). Retrieved from http://urn.kb.se/resolve?urn=urn:nbn:se:kau:diva-42644 PFF Aces. Agosto de 2020

5 - SHERWIN, D. C. (1992). Traditional Chinese Medicine in Rehabilitation Nursing Practice. Rehabilitation Nursing, 17(5), 253–255. doi:10.1002/j.2048-7940.1992.tb01560.x url to share this paper: sci-hub.tw/10.1002/j.2048-7940.1992.tb01560.x Aces. Agosto de 2020

6 - SOUZA, Rodolfo Costa A regulamentação da acupuntura no direito comparado. Câmara dos Deputados / Consultoria Legislativa, Julho de 2009 https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/publicacoes-da-consultoria-legislativa/areas-da-conle/tema19/2009_4931.pdf Aces. Agosto de 2020

7 - ELITE. Acupuncture Essential for Nurse Practitioners https://www.elitecme.com/resource-center/nursing/acupuncture-essential-for-nurse-practitioners/ Aces. Agosto de 2020

8 - ActuSoins, 6 mai 2015. Acupuncture : une infirmière condamnée pour exercice illégal de la médecine https://www.actusoins.com/262991/acupuncture-une-infirmiere-condamnee-pour-exercice-illegal-de-la-medecine.html

7 - COFEN – Conselho Federal de Enfermagem RESOLUÇÃO COFEN N°585 de 08/08/2018 https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-585-2018_64784.html Acesso 23/08/2020

9 - KUREBAYASHI, Leonice Fumiko Sato; OGUISSO, Taka; FREITAS, Genival Fernandes de. Acupuntura na enfermagem brasileira: dimensão ético-legal. Acta paul. enferm. , São Paulo, v. 22, n. 2, pág. 210-212, 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002009000200015&lng=en&nrm=iso>. acesso em 21 de agosto de 2020. https://doi.org/10.1590/S0103-21002009000200015

10 - KUREBAYASHI, Leonice Fumiko Sato; FREITAS, Genival Fernandes de; OGUISSO, Taka. “Acupuntura na saúde pública: uma realidade histórica e atual para enfermeiros”. Cultura de los cuidados. Año XIII, n. 26 (2. semestre 2009). https://rua.ua.es/dspace/bitstream/10045/13510/1/CC_26_05.pdf  ISSN 1138-1728, pp. 27-33

11 - DA SILVEIRA, Rodrigo Euripedes et al. La acupuntura como herramienta de trabajo para las enfermeras: revisión de la literatura. Cultura de los cuidados, [S.l.], n. 35, p. 96-105, mayo 2013. ISSN 1699-6003. Disponible en: <https://culturacuidados.ua.es/article/view/2013-n35-acupuntura-como-instrumento-de-trabalho-do-enfermeiro-revisao-integrativa-da-literatura>. Fecha de acceso: 23 ago. 2020 doi:https://doi.org/10.7184/cuid.2013.35.09.

12 -PEREIRA, Raphael Dias de Mello; ALVIM, Neide Aparecida Titonelli. Acupuntura para intervenção de diagnósticos de enfermagem: avaliação de experts e especialistas de enfermagem. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro , v. 20, n. 4, e20160084, 2016 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000400203&lng=en&nrm=iso>. access on 21 Aug. 2020. Epub Aug 25, 2016. http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160084

13 - GRIFFITHS V, TAYLOR B. Informing nurses of the lived experience of acupuncture treatment: a phenomenological account. Complement Ther Clin Pract. 2005;11(2):111-120. doi:10.1016/j.ctnm.2004.09.003

14 - PEREIRA, Raphael Dias de Mello; TITONELLI ALVIM, Neide Aparecida. Acupuncture in care: an integrative review of scientific production of brazilian nurses. Journal of Nursing UFPE on line, [S.l.], v. 7, n. 7, p. 4849-4858, may 2013. ISSN 1981-8963. Available at: <https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/11743>. Date accessed: 23 aug. 2020. doi:https://doi.org/10.5205/1981-8963-v7i7a11743p4849-4858-2013.

15 - Hao Y, Jiang J, Gu X. Traditional Chinese medicine and nursing care. Int J Nurs Sci. 2017;4(3):328-329. Published 2017 Jun 17. doi:10.1016/j.ijnss.2017.06.005

16 - FRANCO SÁNCHEZ, Jesús; CAMACHO ALCÁNTARA, José Antonio; BEGINES ALONSO, Rocío. Manejo del dolor crónico con acupuntura por la enfermera en atenció n primaria en pacientes diagnosticados de gonartrosis. Biblioteca Lascasas, 2017; V13. Disponible en <http://www.index-f.com/lascasas/documentos/e11307.php>

17 - OLIVEIRA, Cristiane Araújo de Acupuntura e enfermagem: inovar o atendimento humanizado e integral ao paciente. Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Publicações on -line Nov. 2017 https://enfermagem.sbrh.org.br/wp-content/uploads/2017/11/Acupuntura.pdf Acesso em Agosto de 2020

18 - SEBOLD, Luciara Fabiane; RADUNZ, Vera; ROCHA, Patrícia Kuerten. Acupuntura e enfermagem no cuidado à pessoa obesa. Cogitare Enfermagem, [S.l.], v. 11, n. 3, dec. 2006. ISSN 2176-9133. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/7329>. Acesso em: 23 aug. 2020. doi:http://dx.doi.org/10.5380/ce.v11i3.7329.

19 - MARTINS, Eveliny Silva et al . Nursing and advanced acupuncture for relief of low back pain during pregnancy. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 32, n. 5, p. 477-484, Oct. 2019 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002019000500003&lng=en&nrm=iso>. access on 23 Aug. 2020. Epub Oct 10, 2019. https://doi.org/10.1590/1982-0194201900067.

20 - NASCIMENTO, Marilene Cabral do. De panacéia mística a especialidade médica: a acupuntura na visão da imprensa escrita. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 5, n. 1, p. 99-113,  June  1998 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701998000100005&lng=en&nrm=iso>. access on  24  Aug.  2020.  https://doi.org/10.1590/S0104-59701998000100005.


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VER TAMBÉM

National Accreditation Commission for Schools and Colleges of Acupuncture and Oriental Medicine NACSCAOM https://www.nccaom.org/

 WHO- World Health Organization. Health topics/Traditional medicine https://www.who.int/westernpacific/health-topics/traditional-complementary-and-integrative-medicine

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NOTA

apesar da Wikipédia em anos recentes vir conduzindo um beligerante debate contra o que considera pseudociência no âmbito das ciências saúde, o que praticamente abrange as PICS - Práticas Integrativas e Complementares, como são denominadas no Brasil, ainda se constitui como uma possibilidade de diálogo, conhecimento e discussão sobre tais práticas, antes conhecidas como Medicina Alternativa. 

Participe desta série de verbetes dos quais sou também editor de sua construção e discussão:

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Acupuntura e Psicologia II




A propósito da prática da acupuntura por psicólogos e ação do Colégio Médico de Acupuntura movida com objetivo de anular a resolução do CFP - Conselho Federal de Psicologia, pedido que foi aceito pelo TRF contra a decisão, contra a qual o CFP interpôs recurso no Superior Tribunal de Justiça - STJ.


É  realmente estranho neste momento de discussão sobre a prática da acupuntura por psicólogos no Brasil, a sua proibição, diante de tantas incursões e aproximações dos psicólogos com a cultura oriental [ basta citar textos dos psicanalistas C. G Jung (1875 – 1961), Erich Fromm (1900-1980) e Jacques Lacan (1901-1981) ...op.cit. ] e/ou constatar que, os fundamentos da neurofisiologia que nos permite entender a acupuntura, do ponto de vista ocidental, enquanto um sistema de estímulo - resposta  (S-R) no processo saúde doença. Observe-se que os estudos sobre a natureza e magnitude dos estímulos - resposta  (S-R) que caracterizaram os primórdios da psicologia científica, também são aplicáveis à interpretação da estimulação da acupuntura e moxabustão à luz da neuro e/ou psicofisiologia.

Entre os relevantes pesquisadores psicofisiologistas, do sistema  (S-R), se incluem estudos de psicofísica de Ernest Heinrich Weber (1795-1878) e Gustav Fechner (1801-1887), sobre a intensidade física dos estímulos e magnitude da sensação psicológica ou mesmo do próprio W. Wundt (1832-1920), no primeiro laboratório de pesquisa de psicologia.

Para quem não sabe Wilhelm Wundt, foi assistente de Hermann Helmholtz (1821-1894) no Instituto de Fisiologia da Universidade de Heidelberg, e Helmholtz foi quem mensurou a velocidade do impulso neural (antes da invenção dos aparelhos de eletroneuromiografia). Dando seguimento aos estudos de psicofísica, foi Wundt também quem estabeleceu os princípios básicos para estudo da consciência (o substrato material da vida mental) e as quatro características fundamentais das sensações (qualidade, intensidade, extensão, duração), diga-se de passagem características essências para o entendimento da  reflexologia e mesmo das científicas interpretações ocidentais dos efeitos da acupuntura.

Acredito que dispensa apresentações a importancia da psicologia (mesmo ainda sob domínio da filosofia) o estudo dos sentimentos e emoções humanas. Nos basta citar René Descartes, 1649  (As paixões da alma); Arthur Schopenhauer  (1788-1860) ou Immanuel Kant (1724-1804), sem falar de Aristóteles (384 a.C - 322 a.C.) e outros representantes da filosofia grega que possívelmente influenciaram diretamente a cultura chinesa. 

No âmbito de intervenção da psicologia científica moderna, sobre emoções e mecanismos psicossomáticos, podemos mencionar:

- Stanley Keleman (1931-2018), que foi um escritor e terapeuta americano ( vindo da quiropraxia), que criou a abordagem de psicoterapia corporal conhecida como "psicologia formativa" conhecido entre nós proincipalmente por sua “Anatomia da Emoções”

-  Alexander Lowen (1910-2008), que foi um psicanalista estadunidense de orientação freudiana, estudante de Wilhelm Reich nos anos 1940 e início dos anos 1950 em Nova York, que desenvolveu a psicoterapia mente-corporal conhecida como análise bioenergética.

E  naturalmente o próprio Wilhelm Reich (1897-1957) médico, psicanalista e cientista natural. Ex-colaborador de Sigmund Freud, que rompeu com este para dar prosseguimento à elaboração de suas próprias ideias no campo da psicanálise. 

Reich publicou diversos livros afins à bioenergética, além do antigo opúsculo "A função elétrica do prazer e da angustia"  correspondente aos  experimentos em seres humanos, nos quais mediu o potencial de voltagem elétrica em toda a pele, enquanto experimentavam prazer ou ansiedade, em Oslo, na Noruega, entre 1934 a 1937.  Merece destaque ainda seus livros: "A função do orgasmo" e "Análise do Caráter" que praticamente inauguram a abordagem bioenergética e medicina sexual, e, o ainda enigmático livro, para alguns místico: "A Biopatia do Câncer".

Também não é preciso lembrar que as interfaces do efeito da acupuntura sobre a dor, sobre as emoções e doenças psicossomáticas, não podem ser compreendidas sem a interdisciplinariedade e contribuições da psicologia, pois ainda é uma área que demanda conhecimento tanto das ciências biológicas como sociais.

Só para avivar a memória da "Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça" (STJ) , que decidiu que os profissionais da psicologia não podem utilizar a acupuntura como método ou técnica complementar de tratamento, uma vez que a prática não está prevista na lei que regulamenta a profissão de psicólogo, só para avivar a memória, basta citar que alguns dos  vários modelos teóricos conflitantes e/ou  complementares no  estudo das emoções do mundo ocidental podem e devem ser compreendidos com as contribuições orientais e naturalmente da Psicologia:

- a proposição de James-Lange;
- o modelo teórico de Cannon-Bard;
- a teoria dos dois fatores de Shachter
. 

William James (1842 -1910), simultaneamente com Carl Lange (1834 - 1900), formularam de modo independente uma hipótese em que a senso-percepção associada à um evento interno visceral ou autonômico é a fase inicial e essencial para a consciência das emoções. O modelo teórico de Walter B. Cannon (1871-1945) e Philip Bard (1898-1977) segundo o qual a emoção ocorre quando a partir de determinado estímulo o tálamo envia sinais, ao mesmo tempo, para o sistema nervoso autônomo e para o córtex cerebral, o que produz simultaneamente a experiência da emoção e/ou as alterações corporais. A teoria dos dois fatores de Stanley Schachter (1922 -1997), referendada por Jerome E. Singer (1934-2010) propõe que a experiência da emoção depende da estimulação autônoma e sobretudo da interpretação cognitiva dessa estimulação.

 Expressões faciais típicas de seis emoções básicas: 
a. alegria, b. medo, c. surpresa, d. tristeza, e. nojo, f. raiva. 
in: Miguel, 2015


Outros modelos teóricos podem ainda ser citados a exemplo da teoria psicanalítica, onde se utiliza o termo afeto (teoria dos afetos) para designar algumas das emoções referidas por James e Cannon ou hipóteses mais antigas advindas das contribuições dos filósofos ou da medicina grega, com grandes contribuições sobretudo à compreensão da ansiedade, ira (agressão, destrutividade),  tristeza (melancolia) e as paixões e amor.

Na medicina tradicional chinesa traduzida na maioria dos manuais de acupuntura descreve-se os seguintes sentimentos/emoções: (1) ira ou raiva (怒 nù); (2) alegria, felicidade (喜 xǐ ) também traduzido como surpresa susto; (3) ansiedade (忧 yōu) traduzido também como: preocupação – meditação – ficar pensativo (想 - si); ter uma ideia fixa, obsessão; (4) tristeza traduzido também por: melancolia, sofrimento moral, mágoa (悲 bēi) e (5) medo (恐 kǒng). Em uma primeira e superficial aproximação com as teorias ocidentais, que ainda precisa ser realizada, pode-se afirmar que se inserem na perspectiva de superação da dualidade cartesiana mente-corpo, entendendo os órgãos e vísceras  como elementos da adaptação do indivíduo ou organismo ao meio ambiente (clima, fatores nutricionais e genéticos)   


Medicina psicossomática

Poderiam ser citados centenas de textos sobre a "Medicina Psicossomática"  entendendo esta como um sub-especialidade inter, trans ou multidisciplinar do campo da psiquiatria e psicologia médica, onde não faz o menor sentido questionar a importância teórico prático da psicologia. Hipóteses da psicanálise ou “behavior medicine” (medicina comportamental ou psicologia da saúde) já estão quase consolidadas ou são consensuais na prática da psicoterapia.

O termo medicina psicossomática começou a ser utilizado nas primeiras décadas do século XX, 1939 pode ser considerado uma data de sua consagração, tendo como marco o início das discussões que resultaram na fundação da American Psychosomatic Society em 1942.

Contudo é o resultado de séculos de elaboração, desde o dito “mens sana em corpore sano”, e das contribuições orientais, até, sem dúvidas, o local de onde evoluiu aqui no ocidente, ou seja: nos laboratórios de psicologia ou nas investigações psicanalíticas que contribuiram para o campo, com informações acerca da origem inconsciente das doenças, e mais especificamente dos estudos das paralisias, conversões hipocondríacas, e anestesias histéricas originados das contribuições pré - psicanalíticas de Jean-Martin Charcot (1825-1893) e Josef Breuer (1842-1925), do próprio Sigmund Freud (1856-1939) e principalmente de Franz Alexander (1891-1964), um médico e psicanalista húngaro judeu radicado nos Estados Unidos  considerado o fundador da medicina psicossomática de base analítica e da criminologia psicanalítica.

É realmente muito estranho supor que a acupuntura como método ou técnica complementar de tratamento assim como a psicoterapia (com e sem intervenções corporais) possam ser compreendidas como não estando previstas na lei que regulamenta a profissão de psicólogo. (?)

A restrição prática da acupuntura por psicólogos no Brasil, só pode ser compreendida como reserva-disputa de mercado profissional, diante de tantas contribuições dos psicólogos ou inerentes à psicologia com a cultura oriental, e/ou a ciência do diagnóstico e terapêutica da medicina cosmopolita (hegemônica) ocidental


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Os ideogramas que formam a palavra  psicologia 心理学  (xīn lǐ xué), 
correspondem às palavras Coração, Razão e Aprender

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Referências

ANDRADE, Cleyton. Lacan Chinês. Poesia, Ideograma e Caligrafia Chinesa de Uma Psicanálise. AL: Edufal, 2015

ANDRADE, Cleyton. Escrita poética e a interpretação no último LacanOpção Lacaniana Online
Ano 6 • Número 18 • novembro 2015 • ISSN 2177-2673

CAMPIGLIA, Helena. Psique e medicina tradicional chinesa. São Paulo: Rocca, 2004 Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/103678998/Psique-e-Medicina-Tradicional-Chinesa-Helena-Campiglia-1

FROMM, Erich; SUZUKI, D.T.; MARTINO, Richard. Zen-budismo e psicanálise. SP: Cultrix, 1989

HOTHERSALL, David. História da psicologia. SP: McGraw-Hill, 2006

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JUNG, C. G. Psicoterapia e religião oriental. RJ, Vozes, 1986

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REICH, Wilhelm. A função do orgasmo. SP, Brasiliense, 1975

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VER TAMBÉM