quarta-feira, 17 de maio de 2023

Os Chakras [ चक्र / cakra ] , segundo Mircea Eliade (1907-1986). Excertos e anotações

 


Esse conjunto de anotações integra a revisão sistemática da tese que considera o sistema de pontos e meridianos da acupuntura e por extensão o conjunto de chakras ou cakras, que é a forma romanizada do vocábulo (चक्र cakra) em sânscrito, como as primeiras representações do que hoje nós compreendemos como sistema nervoso com suas formas, funções e patologias.

Apesar da referida proposição se deter no sistema etnomédico ou medicina tradicional chinesa não é possível ignorar a relação entre as concepções indiana e chinesa com as suas promissoras aplicações que vem sendo reconhecidas em todo mundo desde meados do século XX.

Destacamos aqui os estudos e intervenções de Svoboda e Lade (no livro Tao e Dharma, 1995) que explora as semelhanças e diferenças desses dois sistemas etnomédicos, e intervenções clínicas de Gabriel Stux, publicadas entre outras edições no Medical Acupuncture, 1994. Gabriel Stux inclui na aplicação tradicional de agulhas da acupuntura as concepções do sistema indiano de chakra para diagnose das patologias e escolha do tratamento. Na pesquisa de Svoboda e Lade, na ilha, quase indiana, de Sri Lanka (Ceilão), com forte influência chinesa, que se estendeu a médicos tradicionais tratadores de elefantes e textos clássicos, eles constataram que apesar das doutrinas chinesas e indianas partilharem de temas comuns (destaca as semelhanças entre Chi e Prana), elas são essencialmente únicas, e seus conceitos não podem ser intercambiados na totalidade.

A escolha da análise da tese de Mircea Eliade (1907-1986) se deve não somente à pertinência do tema Chakras, mas também a excelência da metodologia empregada por ele para obter uma melhor compreensão de uma medicina ou espiritualidade exótica sem nos limitarmos a nossa própria orientação cultural. Sua tese sobre as doutrinas do Yoga, destinada a historiadores de religiões, psicólogos e filósofos (como ele a definiu) foi apresentada na Universidade da Romênia, (1932-1936) na cadeira de filosofia e filologia, foi posteriormente adaptada para livro (Chicago, 1967) com o nome de “Yoga, imortalidade e liberdade” de cuja tradução de Teresa Barros Velloso para o português extraímos aqui as descrições da concepção de chakra/ cakra, orientados pelas notas e índice remissivo da edição (1972/1996).

Sem o apoio das disciplinas da história e linguística, como evidencia em seu trabalho (e estudo do sânscrito e filosofia por quatro anos (1928-1931) na Universidade de Calcutá não teríamos obtido resultados tão precisos. A ênfase em linguística desenvolvida por ele se deve inclusive a natureza do sânscrito em sua relação aos idiomas europeus despertados pela filologia comparada indo ariana.

No caso da tese que estamos desenvolvendo sobre as representações “primitivas” do que hoje nós compreendemos como sistema nervoso, a nossa maior demanda não recai sobre a barreira linguística do entendimento de um conjunto de ideogramas chineses. Nossa maior dificuldade são as relações destes com a nomenclatura das patologias e disfunções do sistema nervoso historicamente identificadas tanto em nossa medicina ocidental como no sistema etnomédico chinês. Do mesmo modo que Eliade temos a análise do processo histórico de ambos os sistemas como guia, sendo que nossa ênfase é a antropologia médica.       

Nesse presente texto recortamos da valiosa contribuição de Eliade, que além de sua metodologia histórico-filológica, nos trouxe, de forma clara, a noção de que os chakras possuem relação com os plexos nervosos e qual a natureza desta relação, onde se inclui as noções de sono, sonho e demais estados de consciência, tão relevantes para a moderna neurociência. Os plexos nervosos ou plexos raquídeos, são conjuntos de  nervos motores sensitivos ou mistos, que contém por sua vez, fibras motoras ou sensitivas e tem uma distribuição fixa em um território próprio. Tais raízes ou troncos e ramos se entrelaçam e formam territórios distintos de sua raiz raquidiana e troncos nervosos, geralmente na forma de bandas organizadas paralelamente recordando sua disposição metamérica em zonas. (Testut, Latarjet p.219)

Analisando os estudos sobre efeitos fisiológicos do Yoga, Eliade identificou a existência de muitos métodos hatha-yóguicos para se obter resultados semelhantes, supondo que alguns de seus praticantes se especializaram em técnicas fisiológicas, mas outros (a maioria) seguiu a tradição milenar de uma fisiologia mística. Segundo ele pode afirmar que o cormo construído pelos Hatha-yoguis, os tantristas e alquimistas (que analisa em sua tese juntamente com as concepções Budistas, Bramanistas/hinduístas ou xamânicas dos primitivos aborígenes) descrevem o corpo de um “homem-deus”.

Em suas palavras:

“ De fato, apesar de os indianos terem elaborado um complexo sistema de medicina científica, nada nos leva a crer que as teorias da fisiologia mística tenham se desenvolvido na dependência dessa medicina objetiva e utilitária, ou ao menos vinculadas a ela. A “fisiologia sutil” formou-se provavelmente a partir de experiências ascéticas, extáticas e contemplativas, expressas na mesma linguagem simbólica da cosmologia e do ritual tradicional. Isso não quer dizer que tais experiências não tenham sido reais: elas eram reais, porém não no sentido em que um fenômeno físico é real. Os textos tântricos e de hatha-yoga chamam nossa atenção por seu “caráter experimental”, trata-se, porém, de experiências efetuadas em níveis distintos dos da vida cotidiana e profana. As “veias”; os “nervos” os “centros” dos quais falaremos, correspondem sem dúvida a experiências psicossomáticas e estão em relação com a vida profunda do ser humano, mas não parece que “veias” e termos semelhantes indiquem órgãos anatômicos e funções estritamente fisiológicas.

Tentou-se, muitas vezes, localizar anatomicamente essas “veias” e “centros”. Hermann Walter, por exemplo, acredita que, no hatha-yoga, nādi signifique “veias”; ele identifica idā e pingalā com a carótida (loeva et dextra) e brahmarandhra com a sutura frontal (cf. H.Walter,Svātmārāna’s Hatha-yoga-pradipikā, München, 1893, p. IV, VI e IX).

De outro lado, a identificação dos “centros”; (cakra) com seus plexos tornou-se corrente: mūlādhāra-cakra seria o plexo sagrado; svādhisthāna, o plexo prostático; manipūra, o plexo epigástrico; anāhata, o plexo faríngeo; ājnā, o plexo cavernoso. Contudo, basta ler atentamente os textos para perceber que se trata de experiências transfisiológicas; todos esses “centros” representam “estados yóguicos”, isto é, inacessíveis sem ascese espiritual. As mortificações e as disciplinas meramente psicofisiológicas não são suficientes para “despertar” os cakra ou penetrá-los; o essencial, o indispensável, continua sendo a meditação, a realização espiritual. Assim, é mais prudente considerar a “fisiologia mística” como resultado e conceituação das experiências levadas a efeito, esses últimos efetuavam suas experiências em um “corpo sutil”, isto é, por meio de sensações, tensões, estados transconscientes inacessíveis aos profanos. Eles dominavam uma zona infinitamente mais vasta que a zona psíquica “normal”, penetravam nas profundezas do inconsciente e sabiam “despertar” as nascentes arcaicas da consciência primordial, fossilizadas na maioria dos seres humanos.

Segue então os excertos de suas reflexões e descrições dos Cakras.

Segundo a tradição indiana existem sete cakra importantes que se relacionam com os seis plexos e a sutura frontal.

1º) Mūlādhāra (mūla = raiz) está situado na base da coluna vertebral, entre o orifício anal e os órgãos genitais (plexo sacrococcigiano). Tem forma de lótus vermelho com quatro pétalas, nas quais estão escritas em ouro as letras v, s, s’, s. . No meio do lótus um quadrado amarelo, emblema do elemento terra (prthiví), tem no centro um triângulo com o vértice invertido, símbolo da yoni, chamado kāmarūpa; no coração do triângulo está svayambhūlinga (o linga existente por si mesmo), de cabeça brilhante como uma joia. Enrolada oito vezes (tal como uma serpente) ao redor de si mesma, brilhante como o relâmpago, dorme kundalini, obstruindo com a boca (ou cabeça) a abertura do linga. Kundalini fecha dessa maneira o brahmadvāra (porta de Brahman) e o acesso à susumnā. O mūlādhāra-cakra relaciona-se com a forca coesiva da matéria, a inércia, o nascimento do som, o sentido do olfato, a respiração apāna, os deuses Indra, Brahmā, Dakīni, Śakti etc.

2º) Suādhisthāna-cakra, também chamado jalamandala (porque seu elemento é jala = água) e medhradhāra (medhra=pênis), está situado na base do órgão gerador masculino (plexo do sacro). Tem forma de lótus com seis pétalas de cor vermelho-alaranjado, onde estão inscritas as letras b, bh, m, r; l e y. No centro do lótus há uma meia-lua branca que tem relaçāo mística com Varuna. No meio da lua, um bija-mantra em cujo centro está Visnu flanqueado pela deusa Sākinī (segundo a Śiva-samhitā, V,99, trata-se de Rākinī). O svādhisthāna-cakra está relacionado com o elemento água, a cor branca, a respiração prāna, o sentido do gosto, a mão etc.

3º) Manipūra (mani = jóias; pūra = cidade) ou nābhisthāna (nābhi= umbigo), situado na região lombar na altura do umbigo (plexo epigástrico), tem forma de lótus azul com dez pétalas e as letras d, dh,n, t, th, d, dh, n, p, ph. No meio do lótus há um triângulo vermelho e sobre o triângulo o deus Mahārudra, sentado sobre um touro, tem ao seu lado Lākinī Śakti, de cor azulada. Este cakra relaciona-se com o elemento fogo, o Sol, o rajas (fluido menstrual), a respiração samāna, o sentido da visão etc.

4º) Anāhata (anāhata s’abd é o som que produzem, sem se tocarem, dois objetos, isto é, “um som místico"); está na região do coração, sede do prāna e do jivātman. De cor vermelha, tem forma de lótus com doze pétalas douradas (onde estão inscritas as letras k, kh, g, gh etc.). No meio do lótus há dois triângulos dispostos em forma de “selo de Salomão”, cor de fumaça, no centro do qual se acha outro triângulo dourado contendo um linga brilhante. Acima dos dois triângulos está Īśvara associado à Śakti Kākinī (de cor vermelha). Esse chacra está relacionado com o elemento ar, o sentido do tato, o falo, a forca motriz, o sistema sanguíneo, etc.

5º) Visuddha (o cakra da pureza) está na região da garganta, (plexo laríngeo e faríngeo, na junção da espinha dorsal com o bulbo raquidiano), sede da respiração udāna e do bindu. Tem forma de lótus de dezesseis pétalas de cor vermelho-acinzentado (com as letras a, ā, i, u, ù etc.). No interior do lótus, um espaço azul, símbolo do elemento ākāsa (éter, espaço), tem no meio um círculo branco contendo um elefante. Sobre o elefante repousa um bija-mantra (hang) sustentando Sadāśiva, metade prata, metade ouro, pois o deus está representado em seu aspecto andrógino (ardhanārisvara). Sentado em um touro, tem em suas numerosas mãos uma enorme quantidade de objetos e emblemas que lhe são característicos (vajra, tridente, sino etc.). Metade de seu corpo constitui a Sadā Gaurī, com dez braços, cinco faces (cada uma com três olhos). Este cakra está relacionado com a cor branca, o elemento éter (ākāsa), o sentido da audição, a pele, etc.

6º) Ajnā (ordem, comando), este cakra está situado entre as sobrancelhas (plexo cavernoso). Tem forma de lótus branco com duas pétalas onde estão inscritas as letras h e ks’. É a sede das faculdades cognitivas: buddhi, ahamkāra, manas e os indriya (sentidos) em sua modalidade sutil. No lótus há um triângulo branco com o vértice invertido (símbolo da yoni); no meio do triângulo, um linga igualmente branco chamado itara (o "outro"). Aqui fica a sede de Paramaśiva. O bija-mantra é OM. A deusa tutelar é Hākini: ela tem seis rostos e seis braços e está sentada em um lótus branco.

7º) Sahasrāra-cakra. Localizado no topo da cabeça, sua forma é a de lótus virado para baixo, com mil pétalas (sahasra = mil). Também chamado brahmasthāna, brahmarandhra, nirvāna-cakra etc., suas pétalas exibem todas as articulações possíveis do alfabeto sânscrito, que tem 50 letras (50 x 20). No meio do lótus acha-se a lua cheia que encerra um triângulo; aí se experiencia a uniāo final (unmani) de Śiva e Śakti, finalidade do sādhana tântrico; aí também desemboca a kundalini depois de ter perpassado os seis cakra inferiores. É necessário notar que o sahasrāra-cakra não pertence ao nível do corpo, ele já designa o plano transcendente - isso explica por que se fala geralmente da doutrina dos "seis cakra".

[ Muitas vezes um esquema mitológico é interiorizado e encarnado, utilizando-se a teoria tântrica dos cakra. No poema vixnuíta intitulado Brahma-samhitā o sahasrāra-cakra é assimilado a Gokula, morada de Krsna ] p.222

Existem outros cakra menos importantes. Assim, entre o mūlādhāra e o svādhisthāna acha-se o yonisthāna, lugar de reunião de Śiva e Śakti, lugar de beatitude, também chamado (como o próprio mūlādhāra) kāmarūpa, isto é, desejo e forma. É a fonte do desejo e, em nível carnal, uma antecipação da união Śiva-Śakti, que se completa no sahasrāra. Perto do ājñā-cakra acham-se o manas-cakra e o soma-cakra, relacionados com as funções intelectivas e certas experiências yóguicas. Perto ainda do ājñā-cakra existe também o kārana-rūpa, sede das sete formas causais, consideradas produtoras e constituintes do corpo sutil e do corpo físico. Enfim, outros textos falam de certo número de ādhāra (suportes, receptáculos), situados entre os cakra ou identificados com eles.

Na tradição hesicasta (de oração solitária) distinguiu-se segundo certos autores, quatro “centros” de meditação e prece: 1º centro craniano cérebro-frontal (localizado na região entre as sobrancelhas); 2º) centro buco-laríngeo (correspondente ao “pensamento mais comum: o da inteligência que se expressa na conversação, na correspondência e nos primeiros estágios da oração”, A Bloom); 3º) centro peitoral (“situado na parte superior e média do peito”. A estabilidade do pensamento, já colorido por um elemento tímico, é muito maior nos casos anteriores, mas é ainda o pensamento que define a coloração emocional e que é modificado por ela” A. Bloom); 4º) centro cardíaco (situado “na parte superior do coração, um pouco abaixo da mama esquerda”, segundo os Padres gregos “um pouco acima”, segundo Theophane, o Recluso e outros “É o local físico da atenção perfeita”; Antoine Bloom (L’ hesychasme, Yoga Chrétien? p.185)

Os tantras budistas admitem somente quatro cakra, situados respectivamente nas regiões umbilical, cardíaca, laríngea e cerebral. Este último, o mais importante, chama-se usnisa-kamalā (lótus da cabeça) e corresponde ao sahasrāra dos hindus. Nos três cakra inferiores estão localizados os três kāya (corpos): nirmāna-kāya no cakra umbilical, dharma-kāya no cakra do coração e sambhoga-kāya no cakra da garganta. Porém, observam-se anomalias e contradições relativas ao número e localização desses cakra (ver Dasgupta, An Introduction to Tantric Buddhism, p.163 e ss.). Da mesma forma que nas tradições hindus, os cakra sāo associados às mudrā e às deusas, neste caso: Locanā, Māmaki, Pāndarā e Tārā (Sri-samputikā, citado por Dasgupta, op. cit., p. 165). O Hevajra-tantra oferece uma longa lista de "quaternidades" relacionadas com os quatro cakra: quatro tattva, quatro anga, quatro momentos, quatro nobres verdades (ārya-sattva) etc. (ib., pp. 166-167)

Vistos em projeção, os cakra constituem um mandala cujo cento é marcado pelo brahmarandhra. É nesse centro que tem lugar a ruptura de nível, onde se efetua o ato paradoxal da transcendência, a superação do samsāra e a "saída do Tempo". O simbolismo do mandala é igualmente constitutivo dos templos e de toda construção sagrada indiana: visto em projeção, um templo é um mandala. Pode-se então dizer que toda circum-ambulação equivale a uma marcha de aproximação ao Centro, e que a entrada em um templo repete a inserçāo iniciática em um mandala ou a passagem da kundalini através dos cakra. Além disso, o corpo é transformado, ao mesmo tempo, em microcosmos (com o monte Meru como centro) e em panteão, cada região e cada órgão sutil com sua divindade tutelar, seu mantra, sua letra mística etc. O discípulo não apenas se identifica com o cosmos, mas também chega a redescobrir em seu corpo a gênese e a destruiçāo dos universos. Como veremos, o sādhana compreende duas etapas: 1°) a "cosmizacão" do ser humano; 2°) a "transcendência" do cosmos, isto é, sua "destruição” pela unificação dos contrários (Sol, Lua etc.). O sinal por excelência da transcendência é constituído pelo ato final da ascensão da kundalini: sua união com Śiva, no topo da caixa craniana, no sahasrāra.

KUNDALINI

Já mostramos vários aspectos da kundalini, ora descrita como serpente, ora como deusa ou energia. O Hatha-yoga-pradipikā, III, 9, apresenta-a como "Kutilāngi (a do corpo torcido), Kundalinī, Bhujangī (serpente fêmea), Sakti, Iśvarī, Kundalī, Arundhatī, termos todos equivalentes. Da mesma forma que se abre uma porta com uma chave, o yogin abre a porta da liberação (mukti) libertando a kundalini mediante o hatha-yoga" (cf. Goraksa Sataka,51). Quando a Deusa adormecida é acordada pela graça do guru todos os cakra são rapidamente atravessados (Siva-samhitā,IV, 12-14; Hatha-yoga-pradipikā,III,1 e ss.). Identificada com Śabdabrahman ,isto é,com o mantra OM, a kundalini acumula os atributos de todos os deuses e todas as deusas (Saradā-tilaka-tantra, I, 14,55;XXV,6 e ss.).

p. 202-205; 337

CONCENTRAÇĀO (DHĀRANĀ)

A concentração (dhāranā, da raiz dhr, conservar fechado) é na realidade a fixação em um único ponto, mas cujo conteúdo é estritamente conceitual. Em outras palavras dhāranā, objetiva deter o fluxo psicomental e fixa-lo em um único ponto – realiza essa fixação, a fim de compreender. Na definição de Patañjali, ela é a fixação do pensamento em um único ponto (Yoga Sutra III, 1 ). Vyāsa indica com precisão que a concentração se dá geralmente no centro (cakra) do umbigo, no lótus do coração, na luz da cabeça, na ponta do nariz, na ponta da língua ou em um lugar ou objeto exterior (Yoga Sutra III, 1). Vācaspati Mis’ra acrescenta que não se pode obter a dhāranā, sem a ajuda de um objeto ao qual se fixe o pensamento. 

Comentando o Yoga Sutra III, 1 Vyāsa já falava da concentraçāo no “lótus do coração”. Esta experiência já é encontrada nas Upanisad, sempre relacionada com o encontro com o próprio Si (atman). A luz “do coraçāo”, terá um destino excepcional em todos os métodos místicos indianos pós-Upanisad. A propósito desse texto de Vyāsa,Vācaspati Miśra descreve longamente o lótus do coração: ele tem oito pétalas e se situa de cabeça para baixo, entre o abdome e o peito; é necessário inverter sua posição, retendo a respiração (recaka) e concentrando nele a mente (citta). No centro do lótus encontram-se o disco solar e a letra A; ali é a sede do estado de vigília. Acima encontramos o disco lunar com a letra U; é a sede do sono. Mais acima ainda está o “círculo do fogo”com a letra M, sede do sono profundo. Enfim, acima deste último, encontra-se o “círculo mais alto, cuja essência é o ar”, sede do quarto estado (“estado cataléptico”). Nesse último lótus, mais exatamente em seu pericarpo, situa-se o ”nervo (nādi) de Brahman”, orientado para o alto e desembocando no círculo do Sol e nos demais círculos: aqui começa a nādi chamada susumnā, que também atravessa os círculos exteriores. Aqui é a sede de citta; concentrando-se nesse preciso ponto o yogin obtém a consciência de citta (em outros termos, toma consciência da consciência). ...

O importante é deixar claro desde já que a tradição do Yoga clássico, representada por Patañjali, conheceu e usou os esquemas da “fisiologia mística”; chamada a desempenhar um papel importante na história da espiritualidade indiana. ...

p.71-72

ELIADE, Mircea. Yoga, imortalidade e liberdade. SP: Palas Atenas, 1996

Outras referências

SVOBODA, Robert; LADE, Arnie. Tao e Dharma. SP: Editora Pensamento, 1995

STUX, Gabriel. Chakra acupuncture.Medical Acupuncture, 1994 Volume6/ Nº1 http://www.medicalacupuncture.org

TESTUT, L.; LATARJET, A. Tratado de anatomia humana Tomo III). Barcelona: Salvat Ed. 1983

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Ilustraçāo: Chakra positions in relation to nervous plexi.

C. W. Leadbeater (1847-1934). The book "The Chakras, 1927

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VER TAMBÉM

ACUPUNTURA DE CHAKRA

GABRIEL STUX, M.D. / Tradução: Paulo Pedro P.R. Costa, 2013

https://etnomedicina.blogspot.com/2013/06/acupuntura-de-chakra.html



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